O presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), Vítor Pataco, revelou hoje que “a aparente continuidade em funções do ex-presidente da Federação Portuguesa de Judo foi questionada” junto da FPJ e que a resposta foi negativa.
“A aparente continuidade em exercício como ex-presidente em funções, face às declarações públicas que fez, questionámos o presidente da Mesa da Assembleia Geral, que disse que isso não era verdade. Isso contraria o que temos ouvido e o que foi testemunhado, pela própria Telma Monteiro, e só podemos lamentar e analisar”, disse Vítor Pataco, na audição requerida pelo Bloco de Esquerda em sede da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto.
O responsável da tutela disse ainda ser “inqualificável” o facto de Jorge Fernandes, destituído em dezembro das funções de presidente da Federação Portuguesa de Judo, após as conclusões de um inquérito do IPDJ, se ter deslocado hoje à Assembleia da República no carro da FPJ.
Vítor Pataco frisou que o IPDJ, mais do que fiscalizador, tem procurado ser “equilibrador”, no sentido de “não prejudicar os atletas, não deixar cair um conjunto de preocupações, financiando o programa olímpico e as ações da FPJ”.
Em resposta à primeira interpelação da deputada Joana Mortágua (BE), o presidente do IPDJ explicou ainda que um primeiro inquérito foi concluído — que determinou a perda de mandato do dirigente -, mas que decorre uma auditoria e um segundo inquérito, extraído do primeiro.
“A auditoria teve início em 21 de dezembro, o prazo até fevereiro não foi cumprido, porque a Federação não forneceu todos os documentos relacionados com essa auditoria e autorizei uma prorrogação até 21 de junho, porque temos de concluir o processo de auditoria”, começou por dizer.
Vítor Pataco disse ainda que de 2021 há coisas claras, no relatório preliminar, nomeadamente o facto de o ex-presidente da FPJ ter feito algo “tremendamente grave do ponto de vista da gestão”.
“O presidente da Federação de judo faz o papel de intermediação no pagamento a árbitros e juízes em competições. Por um lado paga em dinheiro do seu bolso, da sua conta, e pede depois o ressarcimento à FPJ, mas, por outro lado e também tão grave, a Federação transfere dinheiro para a conta dele e ele paga em dinheiro a juízes e árbitros. É inaceitável do ponto de vista da gestão”, assinalou, frisando, porém, que não são desvios de fundo, mas de uma prática inaceitável em termos de gestão.
O responsável do IPDJ explicou que a prorrogação do prazo da auditoria serviu também para evitar que houvesse um cancelamento na transferência de verbas, que “poria em causa a preparação dos atletas olímpicos e poderia por em causa o estatuto de utilidade publica”.
Em relação a uma eventual continuidade de Jorge Fernandes, após questão do deputado Jorge Galveias (Chega) se o mesmo não deveria cumprir um ‘período de nojo’, Vítor Pataco considerou que no normativo não há nada que impeça, mas que com a decisão do tribunal, do ponto de vista do IPDJ, o antigo presidente “não pode ser candidato”.
Na audição esteve também o presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Constantino, que precedeu Vítor Pataco, e explicou à comissão o modelo de apoio olímpico, desde as bolsas a atletas e treinadores, à bolsa de preparação destinada às Federações.
“Se a dotação é insuficiente tem que se documentar e tentar encontrar meios de reforço, como aconteceu no passado. Não me ocorre nenhuma preparação que não se tenha realizado”, disse José Manuel Constantino, explicando que o COP presta contas ao IPDJ.
O presidente do COP considera que atualmente existe um problema de “mecanismos de confiança” no judo e de credibilidade.
“É, absolutamente, essencial que quem dirige e quem é dirigido se sinta comprometido e sinta confiança entre as partes. Se essa confiança se quebra não há como dar a volta, e, portanto, todos, atletas, treinadores, clubes, Comité Olímpico, têm de fazer um esforço de superação através do diálogo”, defendeu.
José Manuel Constantino apelou ao diálogo e alertou que é impensável esperar resultados desportivos se as partes não estiverem alinhadas, acrescentando que está também em causa a dimensão reputacional, que o país não compreenderia se o judo não desse uma boa imagem de si próprio e de Portugal.
A crise no judo tem novo capítulo em sede parlamentar na quarta-feira, dia em que é ouvido pela mesma comissão o secretário de Estado da Juventude e do Desporto, João Paulo Correia, na sequência de requerimentos apresentados, respetivamente, pelos grupos parlamentares do PSD e do PS.