Em uma cafeteria vazia fora do Ministério da Justiça do Brasil, a viúva verificava o tempo. Ela girava seu anel de noivado. Ela tomava seu café. Ela verificava o tempo novamente. O Brasil culpa os pilotos americanos pelo acidente que matou 154 pessoas. Eles ainda estão voando. O maior avião – o voo 1907 da Gol, de Manaus para o Rio de Janeiro – desintegrou-se em pleno ar. Todos os seus 154 passageiros e tripulantes foram mortos. O corpo do marido de Gutjahr, Rolf, foi encontrado entre os destroços no chão da floresta. O Embraer Legacy 600, por outro lado, conseguiu pousar em uma base militar próxima. Nenhum dos sete passageiros e tripulantes a bordo – todos americanos – sofreu ferimentos1.
O desastre começou com uma celebração. A empresa de fretamento americana ExcelAire acabara de comprar um jato executivo do fabricante brasileiro Embraer. Então, em 29 de setembro de 2006, executivos de ambas as empresas brindaram a compra e então se prepararam para o voo inaugural do jato da cidade brasileira de São José dos Campos. Lepore e Paladino estavam no cockpit, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos do Brasil relatou, para se familiarizarem com a rota e a própria aeronave. Este foi o seu primeiro voo no Brasil1.
Por 55 minutos, o avião voou centenas de milhas efetivamente no escuro, sem faróis. Ainda assim, o voo foi tranquilo, lembrou o passageiro Daniel Bachmann, um cidadão americano-brasileiro que trabalhava para a Embraer. Um jornalista estava trabalhando silenciosamente em uma matéria sobre a venda do avião para o Business Jet Traveler. Os executivos americanos faziam perguntas sobre a Amazônia abaixo. Mas os pilotos de alguma forma conseguiram chegar a uma pista de pouso na selva. Foi um milagre. Até que não foi: eles logo souberam que haviam atingido um 737, e todas as 154 pessoas a bordo estavam mortas1.
A questão da responsabilidade no que foi então o desastre aéreo mais mortal da história do Brasil dividiu os dois maiores países do hemisfério ocidental. Na versão americana, a colisão foi causada pelos controladores de tráfego aéreo brasileiros. Os pilotos não fizeram nada de errado – eram heróis, até mesmo, por pousar com segurança seu jato em condições extraordinariamente desafiadoras. Depois de serem detidos pelas autoridades brasileiras por semanas, Paladino e Lepore retornaram a uma recepção triunfante nos Estados Unidos. “Será de fato uma temporada de festas abençoada”, regozijou o senador Charles E. Schumer (D-N.Y.)1.
No entanto, no Brasil, os pilotos americanos foram considerados culpados. Um tribunal criminal determinou que Paladino e Lepore haviam voado enquanto o transponder do avião estava inativo, efetivamente cegando os controladores de tráfego para a altitude precisa de seu jato. Eles foram considerados culpados em 2011 de atacar a segurança de um avião e condenados a 40 meses de liberdade condicional. “A falha dos pilotos causou a tragédia”, disse a futura presidente Dilma Rousseff enquanto fazia campanha para seu primeiro mandato1.
Agora, semanas após os Estados Unidos negarem o pedido de extradição do Brasil, Gutjahr, 66, estava esperando sua última melhor chance de reparação. O juiz brasileiro que condenou os pilotos havia decidido em 2019 que os pilotos poderiam cumprir sua sentença em solo americano. Ela tinha uma reunião nesta manhã para perguntar a um alto funcionário da justiça se isso ainda poderia acontecer. Ela terminou seu café. Ela sentiu aquela raiva subindo novamente. “Cento e cinquenta e quatro mortes”, ela disse1.